Como a IA Generativa deve afetar a Economia
Artigo de opinião pelo conselheiro federal Eduardo Araújo, publicado originalmente no jornal A Tribuna ES*
Há pouco mais de um ano, o lançamento do ChatGPT pela OpenAI marcou um ponto de virada na história da humanidade. Bill Gates, uma das principais referências no campo da tecnologia, equiparou esse momento às invenções do microcomputador e da internet. Destacou o impacto de mudança da Inteligência Artificial (IA) Generativa na maneira como as pessoas trabalham, aprendem, consomem serviços, redesenhando diversos setores da economia.
No centro dessa revolução estão os Modelos de Processamento de Linguagem Natural. Eles operam numa lógica surpreendentemente simples, mas poderosa: prever a próxima palavra com base em vastos conjuntos de dados textuais. Mas vão além da memorização, aprendendo profundamente a essência da comunicação humana. Esse processo, similar ao aprendizado de uma criança, evolui do básico até a capacidade de formular frases complexas e gerar conhecimento.
Hoje, esses agentes virtuais estão se tornando onipresentes, desempenhando papéis cruciais em variados setores. No ambiente profissional, são ferramentas que transformam a prática jurídica, economizando horas de trabalho meticuloso. Na área da saúde, potencializam diagnósticos e decisões clínicas. No dia a dia, tornam-se consultores pessoais, oferecendo desde aconselhamento psicológico até assistência para organização de finanças pessoais.
O impacto econômico é inegável, sobretudo na produtividade. Conforme a McKinsey, a IA pode automatizar de 60 a 70% das atividades laborais, elevando o crescimento anual do PIB global em até 1,2%. Tal eficiência não só acelera tarefas, mas também eleva padrões de qualidade, conferindo uma vantagem competitiva absurda aos usuários.
No entanto, essa transformação não é isenta de desafios, especialmente em relação à ampliação da desigualdade social. A disparidade no acesso e na habilidade de utilizar a IA Generativa pode criar uma profunda divisão. De um lado, indivíduos e empresas que rapidamente adotam essas tecnologias avançam. Do outro, aqueles sem acesso correm o risco de ficar para trás.
Diante de uma competição global acirrada, com países desenvolvidos investindo intensamente em IA, o Brasil e o Espírito Santo ainda estão engatinhando, com passos muito tímidos. A necessidade de políticas robustas e investimentos estratégicos em IA é premente, não apenas para manter o ritmo com a corrida global, mas para assegurar que os benefícios dessa revolução tecnológica sejam compartilhados de maneira justa e equitativa.
*Eduardo Araújo é Consultor do Tesouro Estadual, Mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Oxford e Conselheiro no Conselho Federal de Economia.