Mesa de encerramento do CBE comemora os 75 anos da Cepal
“Pensamento cepalino demonstra sua vivacidade sem perder sua origem”, expressou o economista Ricardo Bielschowsky
A mesa de encerramento do XXV Congresso Brasileiro de Economia teve como tema os 75 anos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, a Cepal. O debate contou com os economistas Ricardo Bielschowsky, Carlos Henrique Fialho Mussi e Juan Pablo Jiménez.
Ricardo Bielschowsky é organizador de três coletâneas sobre a história da Cepal, lançadas por ocasião dos 50, 60 e 70 anos da Comissão. Ele abordou o pensamento da instituição ao longo do tempo. “Nos anos 50, destacou-se a teoria centro-periferia; nos anos 60, as reformas para que os países periféricos pudessem alcançar o desenvolvimento; nos anos 70, os estilos de desenvolvimento; na década de 1980, como superar, com crescimento, a asfixia da dívida”, afirmou. “O neoestrutralismo traz o foco de novo para as relações centro-periferia, mas na era da globalização financeira e produtiva. Os elementos do pensamento econômico da Cepal continuam presentes. O pensamento cepalino demonstra sua vivacidade sem perder sua origem”.
Bielschowsky também falou sobre três implicações analíticas e de política. “Primeiro, a condição periférica supõe um modo próprio de introduzir avanços técnicos. Segundo, a industrialização espontânea dos anos 50 é muito problemática. É necessário um planejamento e suporte estatal e há que atuar no âmbito do comércio internacional e na esfera do financiamento. E um terceiro, vem de um texto recente, muito importante do ponto de vista do planejamento, que é a ideia dos pactos. São sete pactos para a igualdade”.
Carlos Mussi falou sobre os anos mais recentes da Cepal. “O que tem sido comum é a tríade da igualdade: trazemos o tema da distribuição de renda, do acesso aos direitos sociais e o questionamento à cultura do privilégio”, contextualizou. Ele também falou sobre um documento apresentado em 2022, que tem alguns pontos que ele gostaria de deixar. “Existe a questão do impulso ambiental, que nós ampliamos para a sustentabilidade. Está associado à discussão de novos modelos de desenvolvimento. E apontamos para um modelo baseado em três tipos de eficiência: a produtiva, a keynesiana (eficiência de demanda – em que mercados você está inserido? Como é o seu mercado interno) e a de sustentabilidade”.
Mussi também trouxe o fato de que a América Latina como um todo é muito deficitária na questão da governança ambiental. “Sempre houve uma exploração feita até que o produto se esgotasse e outro produto aparecesse. Hoje temos a questão do lítio”, comentou. “Além da sustentabilidade ambiental, temos que ter uma sustentabilidade social. É uma questão da legitimidade do modelo – se não gerar renda e emprego, não se sustenta”.
Juan Pablo Jiménez apontou que a região é marcada por dois aspectos econômicos: a alta volatilidade macroeconômica e a desigualdade. “Apesar das melhoras distributivas, ainda somos a região mais desigual do mundo. Existe uma alta concentração de renda e uma significativa disparidade regional”, argumenta. “Uma pergunta importante é: por que a política fiscal não deu o resultado esperado? Várias características explicam essas limitações. Uma carga tributária volátil, uma atitude muito procíclica, entre outras”.
A região é muito dependente dos preços das matérias-primas e, conforme a cotação delas aumenta ou diminui no mercado internacional, a arrecadação também é impactada para cima ou para baixo. Esta situação faz com que a volatilidade tributária seja três vezes maior do que nos países desenvolvidos. “Se, de alguma maneira, a política fiscal compensasse isso com ações de caráter contracíclicos, esta questão poderia ser mitigada. Mas não é o que acontece. A política de gastos está muito vinculada ao ciclo econômico. O resultado fiscal da América Latina é majoritariamente fiscal: desde 1950 a 2021, menos de 20% dos resultados das contas públicas foram superavitários”.