Seminário: Mesa 1 debate participação feminina no mercado de trabalho
Mesa de debates discutiu campos de atuação, dificuldades que as mulheres encontram para acessar o trabalho e polícias públicas para promover a igualdade de gênero
A primeira mesa do seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade, realizado pelo Cofecon na última quarta-feira (11), teve como tema economia e mercado de trabalho. As expositoras foram as economistas Silvana Parente, diretora de Economia Popular e Solidária do Ceará; Andréa Kovalczuk, perita e vice-presidente do Corecon-PR; Eliane Martins, vice-presidente do Corecon-SC; e Luiza Borges Dulci, gerente de projeto da Secretaria-Geral da Presidência da República.
Silvana iniciou sua exposição caracterizando o que são pequenos negócios e discutindo questões como formalidade e informalidade, para finalmente entrar na questão de gênero. “Relatório recente do Banco Mundial aponta que quanto maior a igualdade de gênero, maior o desenvolvimento econômico, e o contrário também é verdadeiro. É uma via de mão dupla. Temos que trabalhar para a pauta da igualdade de gênero”, afirmou.
A economista argumentou que a questão de gênero está nas questões produtiva e reprodutiva e na esfera de poder. “Daí vem o debate sobre a participação das mulheres nos cargos de gestão, de política, no Legislativo, Executivo e Judiciário, mas sabemos que isso se conecta com as outras esferas”, questionou. “Se não avançarmos nas questões de gênero na esfera do cuidado, na esfera reprodutiva e na esfera de poder, não conseguiremos avançar no debate de hoje, que é na esfera produtiva”.
Ela citou que a Universidade Federal do Ceará fez um estudo sobre a desigualdade de gênero na pandemia, apurando que as mulheres trabalhavam semanalmente por 21,4 horas sem remuneração. “Na cabeça das pessoas, é como se isso não fosse trabalho. Temos que mudar esta cultura de que o trabalho doméstico não é trabalho. É uma economia invisível, e está mais afeta às mulheres”, apontou. “É preciso que a sociedade enxergue esta desigualdade. Precisamos de políticas públicas. Se a mulher negra ou branca da periferia e da favela tivesse uma creche para colocar seu filho, estas horas de trabalho diminuiriam”.
Por fim, Silvana abordou a economia solidária e o ASG. “A economia solidária é baseada em questões de cooperação, sobrevivência da família, solidariedade e reprodução social. Não é a maximização do lucro que nós aprendemos na faculdade. A racionalidade econômica não é a mesma das teorias econômicas tradicionais. Precisamos estimular esta economia, porque a economia capitalista é excludente ambientalmente e socialmente”, criticou. “Existe um movimento no qual o capitalismo tenta ser mais bonzinho e social, que é o ASG, que é muito interessante, mas que não vai resolver”.
A economista Andrea Kovalczuk falou sobre a mulher na atividade de perícia econômico-financeira, atividade em que atua há 28 anos. “Hoje temos um apoio dos nossos Conselhos, muitos têm núcleos de peritos econômico-financeiros. Os núcleos estão sempre desenvolvendo cursos de especialização na nossa área”. Ela mencionou a importância do Cadastro de Auxiliares da Justiça, afirmando que trouxe uma democratização à área de perícia.
“E para a mulher? Hoje ela é parte atuante no mercado, podemos e devemos entrar neste campo da perícia econômico-financeira e temos muitas vantagens”, pontuou. E trouxe um número: no Cadastro Nacional de Peritos em Economia e Finanças, organizado pelo Cofecon, há apenas 22% de mulheres.
“A pandemia nos trouxe liberdade. Mais do que home office, liberdade geográfica. Temos liberdade de horários – mas fiquem atentos, porque estamos amarrados a prazos judiciais”, apontou. E trouxe casos específicos de assédio e de preconceito. “Nós, como mulheres, somos multitarefas. Podemos sempre fazer novas especializações. Mas temos desafios, e um dos principais é começar. Entrar no mercado de trabalho. Nós estudamos mais, trabalhamos mais, mas ainda ganhamos menos que os homens”.
A economista Eliane Martins falou sobre o agronegócio e o meio ambiente e fez um agradecimento a vários homens de forma específica, como o presidente do Corecon, o reitor de sua universidade e, em especial, seu próprio pai. Ela iniciou contando a história de um trabalho que realizou, no qual ouviu do cliente: ‘meu avô sempre dizia para tomar cuidado com mulheres, principalmente as baixinhas’. “Não podemos deixar que os outros nos tachem de qualquer maneira”, afirmou Eliane. “Não posso deixar de falar também do Mohammed Yunus, que é o pai do microcrédito e fez todo um trabalho direcionado às mulheres”.
“A mulher tem um papel importante, e a economista tem um papel mais importante ainda, que diz respeito à educação financeira. Ela pratica o verdadeiro objeto de estudo da economia que é a escassez. É a mulher que determina, que controla os parcos recursos para que, no final das contas, a família possa se alimentar e tenha o mínimo possível das suas necessidades atendidas”, comentou. “Ela é uma gestora dos recursos escassos por natureza. Só precisamos evidenciar isso. Sempre que alguém nos pergunta quais são nossas atividades, temos a tendência de minimizar o que nós fazemos. Temos que mostrar a importância que cada um tem”. A economista também trouxe o dado de que se houvesse igualdade salarial entre homens e mulheres no mundo, o PIB teria um aumento de 30%.
Eliane citou especificamente a área de captação de recursos como uma área em que a multidisciplinaridade permite uma formação de equipes plurais. “Dessa maneira, a questão de gênero acaba se diluindo aos poucos”, explicou. “Este é um processo que vale a pena ser mais pesquisado”.
Luiza Dulci falou sobre a economia do cuidado. “Tem a ver com uma das atividades que estou acompanhando no Governo Federal, para trabalhar numa política nacional de cuidados a ser lançada em 2024”, informou. “O tema dos cuidados toca o mercado de trabalho, tanto se formos analisar a remuneração quanto se falarmos do trabalho não remunerado e invisibilizado que as mulheres exercem, e aí entra também um componente racial que é fundamental nas desigualdades”.
Para abordar o tema do cuidado, ela abordou três conceitos: trabalho, direito/necessidade e bem público. “Sabemos que as mulheres se dedicam mais ao trabalho de cuidado, tanto em ambiente rural ou urbano. São 21 horas semanais, contra 11 dos homens”, pontuou Luiza. “E para os homens, se o homem está empregado ou desempregado, não muda quase nada o número de horas; já as mulheres ocupadas dedicam em torno de 17 horas, e as desempregadas dedicam 24 horas semanais”.
Ao falar sobre o trabalho doméstico, a economista também trouxe alguns números: são seis milhões de trabalhadores domésticos no Brasil, sendo 92% mulheres e 65% destas mulheres são negras; 1,5 milhão têm carteira assinada, enquanto os outros 4,5 milhões não têm. Outro número trazido é que 30% das mulheres em idade ativa não estavam procurando emprego devido às suas responsabilidades com filhos, parentes ou afazeres domésticos, número que cai para 2% quando se trata de homens. Já o valor monetário de trabalho não remunerado no PIB mundial seria de 10 trilhões de dólares anuais – três vezes maior que o estimado para o setor de tecnologia.
Por fim, a moderadora do debate, Maria de Fátima Miranda, fez um resumo. “Quando a Silvana fala sobre os pequenos negócios, a economia solidária, este papel cabe às universidades e ao governo. Quando a Andréa fala de perícia, este papel de inclusão cabe a nós, Cofecon e Corecons”, comentou. “Quando a Eliane fala de sustentabilidade agrícola, é um trabalho perfeito para a mulher, pois temos intuição e sensibilidade. E quando a Luiza aborda a economia dos cuidados, o papel do governo é primordial e urgente neste processo”.
A mesa “Economia e Mercado de Trabalho”, primeira mesa de debates do seminário Economia, Formação, Mercado de Trabalho, Gênero e Diversidade, pode ser assistida no vídeo abaixo: