Lacerda aborda industrialização em entrevista à TV 247
Conselheiro federal foi entrevistado pelo jornalista Leonardo Attuch nesta segunda-feira (02), com transmissão pelo YouTube
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda foi entrevistado na noite desta segunda-feira (02) pelo jornalista Leonardo Attuch. A conversa foi transmitida pelo canal TV 247 no YouTube. O vídeo pode ser assistido clicando AQUI.
O primeiro tema abordado foi a melhora das expectativas econômicas. “Já na transição fizemos um trabalho de redesenho da política econômica. O governo anterior havia juntado ministérios sob o argumento da racionalidade. Todos os que conheciam minimamente a estrutura de poder na área econômica sabiam que não poderia funcionar”, criticou Lacerda. “Foram resgatadas as funções clássicas. A Fazenda, que cuida do orçamento; o Planejamento, com visão de médio e longo prazo; restaurou-se o papel do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e foi criado um quarto ministério, que é o da Gestão e Inovação do setor público. E, além disso, o resgate dos bancos públicos e das empresas estatais. São mudanças estruturais em curso que estão trazendo resultados de curto prazo, mas que apresentarão principalmente resultados de médio e longo prazo”.
A industrialização foi o assunto que dominou quase toda a entrevista. O Brasil vive, há muitos anos, um processo de desindustrialização e o conselheiro federal, inclusive, tem um livro publicado sobre o assunto: “Reindustrialização: Para o Desenvolvimento Brasileiro”. “A operação Lava Jato teve um papel desestabilizador. O afã de criminalizar o Estado e a política econômica trouxe malefícios terríveis para a indústria, a infraestrutura e as empresas”, argumentou Lacerda. “A corrupção é inerente ao capitalismo, ocorre nas melhores praças, mas a forma de combate foi distorcida no Brasil. A indústria não é somente do acionista, mas dos demais interessados: empregados, clientes, fornecedores e a própria sociedade. A empresa é uma grande contribuinte da arrecadação tributária. Se há um problema de corrupção, afaste os dirigentes, puna os dirigentes e eventualmente a empresa, mas sem inviabilizá-la, porque isso se traduz num malefício para a economia”.
O entrevistador mencionou um processo de “ruralização” do Brasil, com o agronegócio ganhando cada vez mais espaço. “Não podemos deixar de nos favorecermos das vantagens comparativas e competitivas que temos no complexo agropecuário, mineral e petrolífero. Isso faz parte da nossa estrutura. Mas o Brasil não pode se acomodar nestes setores sem desenvolver a indústria”, observou o economista. “Não temos qualquer precedente de um país com as dimensões do Brasil que tenha se desenvolvido sem uma indústria forte. Temos mais de 200 milhões de habitantes, somos um país com grande desigualdade e só vamos superá-la com a neoindustrialização. Não significa abrir mão dos complexos já citados, onde temos vantagem comparativa, com resultados inegáveis para a balança comercial. Mas é preciso qualificar nossa produção, e isso se faz com a transformação”.
O economista aponta que a desindustrialização não é um fenômeno mundial. “Em países como Estados Unidos e Alemanha a participação da indústria caiu depois que o país atingiu um nível de renda per capita elevado, proporcionando o crescimento do setor de serviços. E alguns países desenvolvidos terceirizaram sua produção nas décadas de 1990 e 2000 para o leste asiático, afetando sua capacidade industrial”, pontuou. “Mas nenhum país com as características do Brasil está sofrendo desindustrialização. Coreia e China vivem uma ampliação da industrialização”.
Para trazer ao Brasil uma nova industrialização, adequada à transformação energética, à economia de baixo carbono e aos demais desafios atuais, Lacerda destaca que uma política industrial tem um papel muito importante. “Ela está presente na maioria dos países, às vezes com um nome diferente. O plano americano tem o nome de Inflation Reduction Act, mas traz no seu bojo a industrialização. A indústria 4.0 está no plano alemão de desenvolvimento, com objetivos muito claros”, observou. “No caso brasileiro, tudo isso precisa contar com o papel do BNDES, dos demais bancos públicos e das agências de fomento. Só o PAC tem previsão de investimentos de 1,4 trilhão de reais até 2026 e 80% disso será do setor privado. Daí o papel relevante que o BNDES pode exercer ao oferecer linhas de crédito e financiamento competitivos diante dessa necessidade de recursos”.
Para promover a reindustrialização do Brasil, será necessário utilizar tarifas de importação? “Sim. Nos anos 90 fizemos uma abertura apressada, com a tarifa média caindo de 50% para 11%, além das várias exceções. Mas não houve a preparação do ambiente econômico e dos fatores de competitividade sistêmica: estrutura tributária, condições de financiamento, logística e burocracia. Não se trata de fechar a economia, mas de recalibrar as tarifas às condições que se quer para agregar valor local”, afirmou Lacerda. E finalizou vislumbrando a oportunidade que o momento atual traz para o Brasil: “Temos a reestruturação das cadeias internacionais, com processos de produção mais próxima e mais amigável, e também com a descarbonização da economia. Isso representa uma chance única, nessa fase da história econômica mundial, de requalificação da economia brasileira dentro do processo de industrialização”.