Lacerda: “BC deve ser autônomo em relação ao mercado financeiro”
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda participou na última segunda-feira do Jornal da Cultura. Ele esteve na bancada comentando as principais notícias veiculadas no telejornal. Entre os assuntos, destaca-se a autonomia do Banco Central, tema de destaque no noticiário econômico na última semana; a reunião do Conselho Monetário Nacional, que será a primeira do novo governo; e a alta taxa básica de juros praticada no Brasil.
O comentário de Lacerda pode ser assistido no vídeo abaixo:
Autonomia do Banco Central
“É importante a autonomia do BC? Sem dúvida. Mas ele tem que ser autônomo de fato, em relação ao governo, e ele tem que ser coerente não com o governo que saiu, mas com o governo que entrou”, pontuou Lacerda. “As notícias mostraram a relação muito forte dele com um grupo de ministros de Bolsonaro. Eu pergunto: isso é razoável para um Banco Central autônomo? Creio que não”.
A autonomia também deve ocorrer em relação ao mercado financeiro. “Ele tem que se mostrar independência e não ser pautado pelo mercado financeiro. O mercado somos todos nós. O pipoqueiro, o trabalhador, o engenheiro, o empresário, todos nós que trabalhamos somos o mercado”, argumentou. “A forma como alguns dos porta-vozes do mercado financeiro se expressam dá a impressão de que eles são donos da verdade, que não podem ser questionados. E eles têm que ser questionados”.
Reunião do CMN
Nesta quinta-feira o Conselho Monetário Nacional tem sua primeira reunião do ano. E, para Lacerda, ela é importante porque tem uma nova configuração. “No governo anterior, todas as ações da economia estavam centradas no Ministério da Economia. Então, na verdade, o CMN era o Ministro da Economia e o presidente do BC. Tinha pouca diversidade”, comentou. “Agora tem um terceiro elemento, que é o Ministério do Planejamento. Vai ser uma reunião importante que pode ser o começo de uma mudança”.
Inflação justifica juros tão altos?
Questionado se a inflação no Brasil justificaria uma taxa de juros tão elevada, Lacerda analisou a origem da inflação: “O desemprego é elevado, há capacidade ociosa, não temos pressão de demanda. A inflação que sofremos é uma inflação global, que advém do pós-pandemia e dos efeitos da guerra na Ucrânia”. Aumentar os juros, portanto, seria um remédio equivocado: “Impacta o nível de investimentos, encarece o financiamento da dívida pública, encarece a atividade e torna o crédito proibitivo. Não há atividade econômica lícita que tenha o retorno exigido das taxas de juros que são cobradas no crédito ou no financiamento”.