Em entrevista, Lacerda fala sobre a economia no terceiro governo de Lula
O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, concedeu uma entrevista nesta quarta-feira (14) ao programa Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, para falar sobre o momento econômico do Brasil e o novo governo. Lacerda participou da equipe que elaborou o programa econômico da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e faz parte da equipe de transição do novo governo, no grupo de Planejamento, Orçamento e Gestão.
“O que diferencia nossa visão da economia em relação ao que vem sendo praticado é a ênfase muito forte no crescimento econômico, na distribuição de renda, no combate à fome e à miséria e na retomada dos investimentos”, comentou Lacerda. “Propusemos um desmembramento do ministério da Economia. A estrutura atual concentrou várias funções e perdeu interlocução com a sociedade e com os agentes econômicos. A visão de Estado, de planejamento, é um dos pontos principais do programa de governo, que partirá também de um modelo de inserção internacional.”
Questionado acerca de uma possível hostilidade do futuro governo Lula em relação ao mercado financeiro, Lacerda negou que ela exista. “O problema é que há uma ênfase exagerada na visão do mercado financeiro. Ele é importante, mas não é tudo”, respondeu. “O mercado somos todos nós, consumidores, produtores, investidores em projetos, não só no mercado financeiro, mas em empreendedorismo. Todos nós temos que ser ouvidos.”
O presidente do Cofecon também apontou para a necessidade de recuperar o investimento público, que está no menor nível de sua história, e estimular os investimentos privados por meio de regras claras. E defendeu a retomada dos programas sociais. “No longo prazo, um país com a nossa desigualdade, só se consegue reverter isso com um novo programa de desenvolvimento, gerando empregos e renda. No curto e médio prazos precisa haver políticas sociais muito mais amplas do que as que vêm sendo praticadas nos últimos anos.”
A importância das empresas estatais também fez parte da entrevista. “Temos que evitar o uso político das empresas para benefícios partidários, mas não podemos prescindir do talento de pessoas que não podem ser excluídas do processo por terem atividade política. O bom senso deve prevalecer”, comentou. “Os brasileiros que investem em estatais devem ficar tranquilos. Não vejo espaço para intervenções que prejudiquem os investidores.”
Apesar disso, o economista apontou para a importância das empresas para todos os envolvidos – os chamados stakeholders. “Acionistas, consumidores, usuários, trabalhadores, funcionários, clientes e a sociedade como um todo, não excluindo o papel que as empresas têm como arrecadadoras de impostos. A empresa estatal tem um braço social muito significativo”, explicou Lacerda. “O que tem acontecido com a Petrobras é que ela tem apresentado uma lucratividade artificial. Primeiro, porque reflete uma estrutura de preços sem que isso represente o custo de produção daquele insumo. Gera um lucro extraordinário que onera toda a sociedade e aumenta o custo de vida no Brasil, porque aqui toda a alimentação e os serviços utilizam transporte rodoviário. Então é preciso corrigir isso sem interferência.”
Durante o governo anterior de Lula, o mundo vivia o chamado superciclo de commodities. Hoje o cenário internacional é outro. “É adverso, mas há oportunidades. Existe uma reglobalização em curso e o Brasil, apesar da desindustrialização, tem DNA industrial, que pode atrair investidores para realizar atividades aqui”, comentou. “A retomada dos investimentos, sejam eles estritamente públicos ou por meio de parcerias público-privadas, pode reativar a atividade doméstica e isso cria uma oportunidade muito grande. As boas práticas internacionais mostram que uma boa combinação entre Estado e iniciativa privada, envolvendo também os institutos de pesquisa e universidades, é que promovem este processo.”
A entrevista pode ser assistida clicando AQUI.