André Furtado: “jovens devem refletir fora do sistema de pensamento dominante”
Na manhã desta sexta-feira (04), a programação do XXVII Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE) teve início com o painel “O Legado de Celso Furtado como fonte de inspiração nas formulações de políticas de desenvolvimento em níveis regional e nacional”. O economista André Furtado, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e filho de Celso Furtado, foi o convidado para debater o tema.
André agradeceu o convite para participar e disse se sentir acolhido pela Paraíba. “Visitei Pombal e percebi o quanto a memória dele está viva e é importante para o seu estado”, resumiu. Para ele, o legado do pai para as antigas e novas gerações é “muito difícil de representar em sua plenitude. Seu exemplo inspira e inspirou muitas gerações, talvez porque sua experiência pessoal seja única”, acrescentou.
O economista pontuou que a atuação de Celso Furtado não se limitou a recomendar a industrialização acelerada para o Brasil. Ele foi além, relevando que a indústria não era o único caminho para resolver os problemas do subdesenvolvimento. Com isso, André resgatou elementos que podem orientar os jovens dispostos a formular políticas de desenvolvimento regional e nacional.
“A realidade atual nos coloca desafios que precisam ser adequadamente entendidos, a economia brasileira entrou num processo de crescente abertura, a globalização implicou numa perda de poder de intervenção do estado na economia, porém isso não quer dizer que o Estado deixou de ser importante”, ressaltou. “Os jovens devem buscar pensar fora dos sistemas de pensamento dominantes, que são tão onipresentes na ciência econômica.”
Ao citar as barreiras para o progresso dessas políticas, Furtado afirma que a “reconstituição dos mecanismos de encadeamento interno passa a ser o grande desafio para o desenvolvimento de políticas a nível regional e nacional”. Com isso, pensar em políticas de desenvolvimento é pensar sobre o futuro do país. Para André, o processo de refletir a longo prazo por meio da programação econômica não é determinista. “Ela implica em ver o futuro plural que depende das escolhas presentes e serve para iluminar o caminho a ser percorrido”, pondera. “O exercício de modelar o futuro se tornou cada vez mais necessário.”
Legado de Celso Furtado pelo país
Também estiveram presentes no painel o vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Paraíba (Corecon-PB), Celso Mangueira; a economista e representante do Núcleo Multidisciplinar para Estudos e Pesquisas Celso Furtado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Márcia Cristina Silva Paixão; o presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda; o representante da Academia Paraibana de Letras Francisco Sales Gaudêncio; e o presidente do Corecon-PB, Francisco Nunes.
Lacerda saudou a todos presentes no painel e registrou a satisfação em realizar o SINCE no estado do economista. “O Cofecon se sente honrado em sediar o SINCE na terra natal de Celso Furtado na comemoração de seu centenário”, agradeceu.
Antonio Corrêa de Lacerda é organizador do livro Celso Furtado, 100 anos: pensamento e ação com artigos seus e de outros economistas. Além disso, a última edição da Revista Economistas contou com um artigo sobre o legado de Celso Furtado de autoria do historiador Alexandre Barbosa. Para ler, clique aqui.
Ao longo do evento, Celso Mangueira, vice-presidente do Corecon-PB, exemplificou alguns dos legados deixados por Celso Furtado. Em 2019, foi criado o Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento, presidido por Mangueira. Também foi criada a Academia Paraibana da Ciência Econômica, tendo como patrono Celso Furtado, foram publicados livros em parceria com Corecons e universidades, e foi criado o Núcleo de Estudos na UFPB.
“A motivação do Núcleo surgiu pela interlocução do nosso Corecon e a intervenção de Rosa (jornalista, viúva do economista e dirigente do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento). Na época, ela disse que gostaria muito que as novas gerações tivessem contato com a obra de Celso Furtado”, explicou. “Com o tempo, esse acesso se torna difícil.”
Com o Núcleo formado, Márcia passou a atuar em duas frentes: eventos e publicação de livros. Em 2019, quando surgiu de fato o grupo, nasceu também a ideia da publicação em comemoração aos 100 anos do economista. A obra conta com 17 autores e nove artigos de professores da UFPB e de outras instituições e pode ser baixada gratuitamente no site da editora da universidade.
CELSO FURTADO 100 ANOS: Coletânea de ensaios em sua homenagem, clique aqui e conheça.
Francisco Nunes, presidente do Corecon-PB, também agradeceu a presença de todos e pela oportunidade de ter o filho de Celso Furtado no painel. “Eu fico contente em poder tê-lo aqui, André, porque você é a multiplicação genealógica do Celso e nos trará belas reflexões”, disse.
André finalizou dizendo que o pai deixou um importante legado: “a importância da razão e ciência como força capaz de nos fazer superar as mazelas que nos prendem ao subdesenvolvimento, apontando para um futuro melhor nos princípios da igualdade, inclusão e diversidade”.
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