“A Fiocruz alerta há 20 anos que a saúde não é um bem como outro qualquer. Se falta uma tecnologia, um produto, um leito, as pessoas morrem.” – Carlos Augusto Gadelha
Um dos convidados para o debate que abordou o filme A Bolsa ou a Vida e o livro “Celso Furtado, 100 anos: pensamento e ação”, realizado pela Caliban e o Conselho Federal de Economia, foi o economista Carlos Augusto Gadelha, coordenador do grupo de pesquisa sobre desenvolvimento, complexo econômico industrial e inovação em saúde da Fundação Oswaldo Cruz.
Questionado sobre os possíveis aprendizados da pandemia, Gadelha afirmou não acreditar que tenha havido alguma evolução. “Os indicadores de desigualdade, os indicadores ambientais, os indicadores de solidariedade global estão sob ameaça. Quando os países de alta renda já vacinaram mais de 70% de sua população, os países de baixa renda não vacinaram 2% de seus residentes sequer com uma dose da vacina”.
Para Gadelha, os ensinamentos de Celso Furtado se mostram cruciais neste momento. “A Fiocruz alerta há 20 anos que a saúde não é um bem como outro qualquer. Se falta uma tecnologia, um produto, um leito, as pessoas morrem. É questão de direito à vida! Isso vale para o SUS como um todo. Temos um risco sério no Brasil de sofrermos uma tragédia de câncer e doenças do coração, em razão da forte dependência produtiva e tecnológica que temos”, alerta.
O economista pontuou que Celso Furtado sempre colocou a dimensão social e ambiental à frente do desenvolvimento e defendeu a área da saúde como estratégica por representar uma possibilidade viável para investimentos públicos, gerando empregos e crescimento econômico, ao mesmo tempo em que o Estado atende uma forte demanda social. “Quem construiu o Sistema Único de Saúde não pode ser pessimista com relação à capacidade de construção humana de uma trajetória que nos tire do colapso atual. O Brasil, graças à Fiocruz e o Butantã, consegue estabelecer parcerias entre o setor público e o setor privado, mas tendo uma visão pública”.
Gadelha aponta para a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento. “A pandemia nos coloca a oportunidade de articular diferentes segmentos que talvez não estivessem juntos cinco anos atrás, em torno de um novo projeto de desenvolvimento, onde a indústria, a tecnologia e a ciência estejam a serviço da equidade social e da sustentabilidade ambiental”, acrescentou. “Temos que mudar o paradigma e começar a questão social, a questão da equidade e a questão ambiental como vetores do desenvolvimento e não como problemas que não cabem no nosso PIB”.
Um dos papeis essenciais do Cofecon é promover o amplo e sadio debate econômico, sendo referência como entidade profissional que contribui de forma decisiva para o desenvolvimento econômico com justiça social.
O debate pode ser assistido no vídeo abaixo:
O filme A Bolsa ou a Vida está disponível no canal da Caliban no YouTube, no seguinte link: https://youtu.be/N2ERnOk57Z4
Resenha do livro Celso Furtado, 100 anos: pensamento e ação: https://www.cofecon.org.br/2021/04/15/centenario-de-celso-furtado-e-comemorado-com-lancamento-de-livro/