Luciano Coutinho: “Precisamos de uma política de investimentos em energia”
O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho foi o convidado para falar sobre a matriz energética brasileira no XXIV Congresso Brasileiro de Economia. O tema cobra grande importância no momento em que o país vive uma crise hídrica que ameaça a geração de energia elétrica.
A matriz brasileira é composta por 62,5% de hidroelétricas, 23,4% de termelétricas, 9,8% de parques eólicos, 1,9% de energia solar e 1,1% de usinas nucleares. “Se somarmos a energia hidroelétrica, eólica e solar, teríamos cerca de 75% da matriz energética feita de base renovável. Verde”, destacou Coutinho.
Ao falar sobre a escassez de chuvas, destacou que ela não vem de agora: nos últimos 7 ou 8 anos choveu menos do que a média. “Nos últimos dois anos a situação se agravou muito”, destacou o economista. Em dados coletados ontem, os reservatórios se encontravam na seguinte situação: Sudeste e Centro-Oeste, 19,59% da capacidade; Sul, 25,82%; Nordeste, 47,37%; Norte, 68,16%. “Temos um estresse hídrico na principal região econômica do Brasil, que é o Sudeste, e espera-se que cheguemos em novembro numa situação crítica, com reservatórios com 10% de volume, que é o limite mínimo de operação. Todas as fichas estão jogadas no verão de 2022 para que as chuvas retornem de maneira suficiente para manter o sistema hídrico brasileiro à tona. Se não acontecer, e pode não acontecer, nós vamos ter ainda em 2022 uma situação bastante complicada, especialmente para a região Sudeste”, afirmou.
Outro dado trazido pelo economista foram as cargas por dia útil referentes a 2 e 3 de setembro, mostrando que a energia produzida de fonte térmica foi de 29% nestes dias, e 51% de fonte hídrica. Comparando com a capacidade instalada, é a energia térmica que está compensando a escassez hídrica. Além disso, o 42% da produção do Nordeste abasteceu as outras regiões no mês de julho. “O sistema brasileiro integrado torna o conjunto mais resiliente. Este é o lado positivo da nossa matriz energética”, avaliou Coutinho. “Foi o BNDES, no meu período, quem viabilizou o ciclo de expansão da energia eólica no Nordeste”.
Coutinho apresentou em seguida algumas lições. A primeira é que o avanço da energia eólica tornou o Nordeste autossuficiente, e isso ajuda a poupar água dos reservatórios das hidrelétricas do São Francisco. A segunda é que o planejamento de longo prazo precisa ser rigoroso e associado a métricas. A terceira é que precisamos preparar nossa matriz energética para as mudanças e irregularidades climáticas. E a quarta, buscar mais energias renováveis, revisar a capacidade hidrelétrica instalada e viabilizar o gás do pré-sal como fonte de usinas térmicas limpas. O Brasil, na visão de Coutinho, pode decuplicar sua geração de energia solar. “Mais do que planejamento, precisamos de uma política de investimentos em energia, olhando para o longo prazo e muito mais eficaz”, concluiu.