Lacerda realiza palestra inaugural do XXIV Congresso Brasileiro de Economia
O presidente do Cofecon, Antonio Corrêa de Lacerda, realizou na manhã desta quarta-feira a palestra inaugural do XXIV Congresso Brasileiro de Economia. Ele abordou o cenário econômico pós-pandemia e discorreu acerca de vários problemas estruturais que a economia brasileira precisa superar, e que são agravados pela conjuntura desfavorável.
“A pandemia afeta a grande maioria dos países, mas no Brasil há um descaso, uma incompetência de gestão que fez com que 600 mil pessoas perdessem a vida e milhões tenham sido infectadas, gerando perdas enormes do ponto de vista econômico”, iniciou Lacerda. Em seguida, contextualizou a crise do subprime, em 2008, como um momento no qual o mundo inteiro reduziu as taxas de juros para quase zero – o que, na prática, em vários casos significou juros reais negativos. “Tivemos dez anos de taxas muito baixas. Em 2016 e 2017 o Federal Reserve começou a ajustar para cima suas taxas. Com a desaceleração em 2019 e a pandemia em 2020, elas voltaram a ser baixas”.
Em 2019 houve uma pressão nos preços das commodities. “Apesar da desaceleração promovida pelos efeitos da pandemia, nós estamos enfrentando uma inflação resistente, que afeta vários países, mas o Brasil de forma especial”, comentou o presidente. “Temos um quadro internacional de grandes incertezas. A pandemia não acabou, há novas variantes, novas ondas. Há uma recuperação gradual em relação a 2020”.
Tratando especificamente da economia brasileira, após a recessão de 2015/2016 houve um crescimento pífio de 2017 a 2019, uma queda de 4,1% em 2020 e uma recuperação estatística em 2021. Lacerda apontou para o fato de que a economia brasileira ainda se encontra abaixo do nível de 2014, e que a formação bruta de capital fixo encontra-se em nível muito inferior ao de 2013. “Pelo nível de ocupação da capacidade instalada, aparentemente o pior já passou. O desafio será a retomada do investimento, porque é preciso ampliar a capacidade produtiva, mas também modernizar a atividade como um todo, porque há uma mudança tecnológica na economia global”, avalia o economista.
Um dos problemas enfrentados pela economia brasileira é a desindustrialização, que Lacerda caracterizou como algo diferente do que ocorreu em outros países. “Não é só a perda da indústria pelo crescimento do setor agropecuário ou de serviços. Decorre da perda de competitividade da indústria e sua inserção global”, comentou. Lacerda também defendeu que o Brasil precisa de atividades de maior complexidade: “Não se trata de uma escolha entre setor primário, secundário e terciário. O Brasil é um dos poucos países, dada sua estrutura, escala e economia, que tem condições de reverter este processo”.
Por último, além dos aspectos estruturais da economia, o presidente também abordou os conjunturais: crescimento da população subutilizada, impactando no consumo; queda nos investimentos públicos, devido “às amarras autoimpostas” (PEC do teto), a queda expressiva nos desembolsos do BNDES desde 2013 e 2014, a crise político-institucional, a deterioração das expectativas (volatilidade cambial, inflação, alta dos juros, renda em queda, crise hídrica) e o quadro internacional (fim dos incentivos, elevação dos juros nos Estados Unidos, queda nas Commodities e desaceleração em vários países).