Artigo – A alta dos juros

A decisão do Copom de elevar a taxa básica de juros, Selic, em 0,75 pontos percentuais, a 2,75% ao ano, e já apontar um novo aumento de 0,75 para a próxima reunião, significa uma sinalização para não deixar dúvidas a especulações de que os choques inflacionários seriam tolerados.

A Selic estava, desde agosto do ano passado, em 2% ao ano, o seu menor patamar histórico, em uma tentativa de estímulo à queda na atividade econômica pós-pandemia. A justificativa foi de que “os indicadores recentes de atividade econômica mostram recuperação e que as expectativas de inflação foram revisadas para cima”. Argumento até defensável quanto à inflação, porém extremamente controverso quanto à atividade econômica.

Esta é a primeira alta dos juros desde julho de 2015, quando houve uma elevação de 0,5 pontos para 14,25% ao ano. A expectativa de inflação de 2021 subiu para 4,6%, acima do centro da meta de 3,75%.

O Banco Central não quer ser avaliado como “dove”, com um comportamento mais tolerante à inflação, e sim como um “hawk”, intolerante em relação ao aumento de preços, usando o linguajar do mercado financeiro; o cenário atual é de uma Selic de 4,5% ao ano para 2021 e 5,5% para 2022.

O mais grave é que a recuperação econômica já estava mais lenta que o esperado, mesmo com a Selic a 2%, agora se agrava a situação, já difícil devido às crescentes medidas de isolamento, à interrupção do auxílio emergencial, à retomada dele com menor abrangência e à desestruturação de várias cadeias produtivas.

Embora existam alguns choques de oferta e de câmbio como principais vilões da pressão inflacionária, persistem muitas incertezas em relação à economia no médio e longo prazo. Talvez, a elevação da Selic tenha sido precipitada ou a dosagem do remédio tenha sido maior do que a necessidade do paciente.

O Banco Central demonstra mais preocupação com a inflação do que com o nível de atividade, acreditando em um segundo semestre com a maior parte da população brasileira vacinada e em uma acelerada recuperação da economia com a retomada da agenda de reformas e a redução do risco fiscal.


Lauro Chaves Neto é professor da UECE, consultor e conselheiro do Cofecon. Artigo originalmente publicado no jornal O Povo.