Presidência e novos conselheiros são empossados

O Cofecon realizou nesta quinta-feira (30) a solenidade de posse da presidência eleita para o ano de 2020 e dos novos conselheiros federais eleitos para o triênio 2020-2022. O evento ocorreu no Hotel Nacional, em Brasília, e contou com a presença de economistas, autoridades, profissionais de outras áreas e estudantes.

Em seu discurso, o presidente empossado na ocasião, professor doutor Antonio Corrêa de Lacerda, destacou que teve a honra de ser vice-presidente de Wellington Leonardo da Silva. Afirmou que sua gestão, ao lado da vice-presidente, economista Denise Kassama, será de continuidade de um trabalho que não começou recentemente. “Nosso programa de trabalho contempla o fortalecimento da profissão, a preocupação com a formação dos economistas, maior integração com os estudantes, com as entidades afins e com os Corecons, fortalecendo o sistema econômico”.

Lacerda apontou como tarefa mais urgente a luta contra a PEC 108: “Não representamos apenas os interesses corporativos das 31 profissões regulamentadas. Nós representamos o interesse da sociedade”. Falou também sobre a função dos economistas diante do quadro atual de desemprego, subemprego e desalento. “A análise de alternativas representa uma importante atuação nossa como economistas. A economia pressupõe a aderência entre as decisões do caminho da política para economia e é no âmbito da economia política que se definem as escolhas das políticas econômicas”.

Ao falar sobre o momento econômico do Brasil, destacou quatro riscos representados por palavras iniciadas com a letra D: Desintegração econômica (com uma forte perda de qualidade das empresas e dos empregos); Desestatização (privatizações açodadas e sem a necessária regulamentação, colocando em risco a prestação de serviços públicos essenciais); Desnacionalização (que representa não somente o aumento da vulnerabilidade externa, mas a perda de centros de decisão que passam para as mãos de estrangeiros); e Desindustrialização (com uma perda no tecido econômico e social brasileiro). “Celso Furtado certamente concordaria com esta análise”, acrescentou o presidente.

Por último, Lacerda fez uma homenagem à vereadora Marielle Franco, que participou da solenidade de posse do Cofecon no ano de 2018 e logo depois foi assassinada. “Que a morte dela não seja em vão, que seja uma inspiração para todos nós nos princípios da justiça e da busca por nossos ideais até o limite das nossas possibilidades. Este é o compromisso que nós temos que assumir para com a sociedade brasileira”, refletiu.

Wellington Leonardo da Silva, presidente do Cofecon em 2018 e 2019, fez um agradecimento aos conselheiros e funcionários da autarquia e falou sobre a estreita relação com entidades como a Federação Nacional dos Estudantes de Economia (Feneco). “Não se iludam. Quem acha que a nossa garotada é alienada, está fora da realidade e só fica nas redes sociais está redondamente enganado. Há uma enorme parcela da juventude que está cursando Economia que é pra lá de politizada, que tem pra lá de convicções, em todos os espectros da política”, afirmou Leonardo. Realçou também que a economia e a política estão intimamente ligadas: “Ou a economia determina a política, ou a política determina a economia”. E finalizou fazendo uma crítica ao modelo neoliberal e ao momento vivido pelo Chile.

A socióloga Sofia Furtado, neta do célebre economista, expressou sua alegria pela oportunidade de estar presente ao lançamento do Ano Celso Furtado. “É muito importante que estejamos aqui relembrando quem foi a figura dele, para além de sua obra principal, sua contribuição na compreensão do que é a nossa sociedade e que as desigualdades compreendem aquilo que precisamos mudar em nosso país”, agradeceu Sofia.

O presidente da Feneco, Marco Antonio da Silva e Silva, agradeceu ao Cofecon pelo bom relacionamento mantido com sua entidade nos últimos dois anos. “Os estudantes de Economia do Brasil têm se esforçado para anualmente desenvolver uma agenda de debates. Nossos encontros são uma oportunidade para a difusão da produção acadêmica na graduação e é a nossa ocasião para discutir o Brasil”, disse Silva. O estudante também convidou a todos para ler a carta produzida no Encontro Nacional dos Estudantes de Economia de 2019, realizado em Ilhéus, apontando os caminhos que acreditam serem importantes para obter a retomada do crescimento econômico no País e encerrou sua fala citando uma frase de Celso Furtado.

Celso Mangueira, presidente do Corecon-PB e coordenador do XXVII Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (Since), que será realizado de 23 a 25 de setembro em João Pessoa, falou sobre outros eventos que serão realizados em homenagem ao centenário de Celso Furtado. A respeito do Since, falou da iniciativa denominada de “O Since abraça Celso Furtado” – uma vez que o evento, tradicionalmente, é voltado para as entidades de economistas. “É uma grande oportunidade para dar uma dinâmica diferente ao evento, uma dimensão maior, levar uma série de convidados”.

A economista Ana Claudia Arruda Laprovitera, presidente do Corecon-PE, esteve na mesa de honra simbolizando todos os presidentes de Conselhos Regionais de Economia. “Represento não apenas os economistas pernambucanos, mas também as mulheres pernambucanas e brasileiras neste momento difícil em que são questionadas a posição social, política e econômica das mulheres brasileiras”, afirmou a presidente.

O presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), Ricardo Tadeu Martins, iniciou sua fala dizendo que “a Apimec nada mais é do que muitos economistas juntos, e muitos daqueles que vivem no seu dia a dia de decifrar o mercado financeiro e dados macroeconômicos ou microeconômicos para fazer este mercado girar e crescer”. Comentou também que “Apimec, Corecons e Economistas têm tudo a ver, e isso nos deixa muito felizes porque é uma integração necessária e óbvia para fazer com que este país cresça. A união da classe é fundamental para conquistarmos mais espaço e para que mais jovens se interessem pela profissão”.

Saturnino Braga, diretor-presidente do Centro Celso Furtado, falou sobre como foi criada a instituição. “O presidente Lula, meses depois que Celso Furtado faleceu, procurou a viúva, Rosa Furtado, e expressou não só a tristeza da perda, como o desejo de dar continuidade ao pensamento de Celso Furtado sobre desenvolvimento, sobre economia brasileira, o pensamento riquíssimo que mudou o modo de pensar dos brasileiros a respeito de seu próprio país, e ele disse que era preciso criar um instituto, um centro de estudos que dê continuidade, que dê continuidade ao seu pensamento”, contou Saturnino.

O presidente do Conselho Federal de Administração, Mauro Kreuz, é também o coordenador do Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas. Em sua fala, ressaltou a unidade havida entre o CFA e o Cofecon em defesa das respectivas profissões, bem como o bom relacionamento com o presidente Wellington Leonardo da Silva. Ao falar sobre os dias atuais, expressou que “as relações mundiais e domésticas estão experimentando um nível de periculosidade muito grave. Isso exige das lideranças políticas respeito, equilíbrio, serenidade, tolerância e compreensão, e jamais a ofensa e a agressão”, afirmou. “Se não tivermos um projeto de nação ao qual os projetos de governo se subordinem nós fatalmente estaremos subordinados a estes projetos de poder e, infelizmente, neste perigoso acidentalismo em todas as dimensões que percebemos”. Por último, defendeu os Conselhos e sua atuação.

O deputado federal Paulo Teixeira esteve em Pombal, na Paraíba, e conheceu a casa em que nasceu Celso Furtado. “Eu fico às vezes pensando: o Brasil não tem uma pessoa que tenha ganho o prêmio Nobel de Economia. Mas no período em que Celso Furtado brilhou, a Academia tinha uma visão muito voltada para os países de primeiro mundo. Mas certamente hoje, em outro momento, Celso Furtado certamente teria sido o nosso Prêmio Nobel de Economia”, refletiu Teixeira. “Todo o nosso projeto de nação está na Constituição: o desenvolvimento econômico, a superação das desigualdades regionais e sociais, uma sociedade soberana, que anda com seus próprios pés, como dizia Celso Furtado. Este é o projeto estratégico para ultrapassarmos os governos, é um projeto de Estado. Todo o pensamento de Celso Furtado está plasmado na nossa Constituição, trazida pelo processo de redemocratização. O que vemos hoje é um ataque à Constituição, que nós temos que evitar”.

Denise Kassama, vice-presidente do Cofecon, iniciou sua fala com o juramento que os economistas fazem por ocasião da colação de grau. “Eu carregava comigo o idealismo da juventude e acreditava que, de alguma forma, eu poderia ajudar a resolver questões como acabar com a fome do mundo. Por obra do destino, a convite de um professor, tornei-me consultora. Com o meu trabalho, ajudando a implantar novas empresas, pude dar minha parcela de contribuição na geração de emprego e renda”, contou Denise.

Ao falar sobre o momento polarizado que a sociedade brasileira vive, com muitos pseudo-especialistas em praticamente todos os assuntos, destacou a importância dos professores. “Nós, melhor do que ninguém, conhecemos a complexidade, a grandeza e, por que não, a beleza do curso de ciências econômicas. Somos nós que estimulamos o senso crítico e a necessidade de embasamento técnico”.

Denise falou sobre seu trabalho no Cofecon desde 2016 nos Grupos de Trabalho de Economia Solidária e Mulher Economista, bem como na Gincana Nacional de Economia, e falou de projetos como o Desafio Quero Ser Economista, a plataforma de Ensino à Distância e o concurso de resenhas. “Desejo ao presidente Lacerda um profícuo mandato e que ele tenha a certeza de que esta vice-presidente está aqui para somar”, finalizou.