Artigo – Economia brasileira: Década da conscientização e da transformação
Ao aproximar-se o final da segunda década deste século é muito importante uma reflexão profunda sobre o passado, o presente e o futuro próximo e distante do País. A visão imediatista e ações de curto prazo, ainda que influentes, demonstraram-se inúteis e até prejudiciais para o futuro.
O Brasil, com sua invejável riqueza – área, costa, solo, reservas, plantas, clima, além de uma cultura miscigenada – tem força e poder para se destacar no mundo. Basta ter uma gestão estratégica inteligente e responsável.
Há mais de 30 anos, ao coordenar o MIPEM – Sistema de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas, no Banco do Brasil S.A., viajando o País inteiro, observando a realidade de cada região, ao sobrevoar o Rio de Janeiro e, principalmente Minas Gerais, me chamava a atenção a preocupante exploração do solo por mineradoras. Alertei para o futuro risco da exaustão e outras consequências, o que, infelizmente, se concretizou com as indesejáveis catástrofes de Mariana e Brumadinho.
Na Amazônia me preocupava a brutal exploração das ricas florestas, tendo a madeira como a fonte de renda. Pelos rios desciam numerosas toras de madeira. Não quero dizer que não se possa explorar essas riquezas, mas que se faça com responsabilidade. No caso florestal, o reflorestamento é indispensável. Infelizmente, no caso dos minérios não é possível replantar. Por isso, precisa ser explorado com profunda responsabilidade econômica e social, não só para beneficiar nossa geração como as gerações futuras.
Este é um momento de reflexão. Punições severas devem ser tomadas contra os infratores. Sabemos que não é ação fácil, pelo confronto de interesses, mas é necessário e possível.
Outro fato importante que aflorou nestas últimas décadas foi a devastadora corrupção, que teve influência direta nas contas públicas, onerando a sociedade.
Felizmente algumas autoridades, destacando-se Sérgio Moro, tomaram a frente do combate.
Outra medida necessária e indispensável é a avaliação responsável do tamanho da máquina pública, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. É preciso uma reavaliação responsável da dimensão. Não se justifica uma Câmara com 513 deputados, muitos reeleitos por vários mandatos e, às vezes, não sendo autor de nenhum projeto valioso para a sociedade. Uma secretaria técnica para servir a todos os deputados também facilitaria a redução do tamanho da máquina. Estes exemplos se expandem para estados e municípios, ainda que em menor dimensão.
A simplificação e racionalização dos processos no judiciário também permitirá não só a redução de gastos como a agilização dos processos, hoje com longo e emaranhado desenrolar, posicionando o País entre os países mais complicados do mundo. A inovação tecnológica dá espaço para melhorar a eficácia. Basta querer.
Essas não são tarefas fáceis mas são ações que valorizam não só os governantes como todos os brasileiros, o que seria reconhecido no mundo inteiro. São tarefas desafiantes mas desejáveis e possíveis. O novo Governo, ao compor sua equipe técnica e não viciada, dá bons sinais de esperança.
A renovação na composição da câmara de Deputados e no Senado na última eleição, escolhendo jovens e não viciados no sistema, é uma sinalização de que o eleitor quer mudança. Isto traz esperança, ainda que não certeza. Precisamos acreditar e, com a constituição de “ Comunidades Cívicas”, esse sonho pode caminhar para a realização.
Humberto Dalsasso – Economista e Consultor Empresarial de Alta Gestão.