Última noite de debates do XXX ENE tratou dos desafios da conjuntura econômica brasileira
A última noite de debates do XXX Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste (ENE) contou com a palestra “Os desafios da conjuntura e os caminhos para o Brasil sair da crise”, que foi ministrada pelos economistas Antonio Corrêa de Lacerda, conselheiro do Cofecon, e Oswaldo Ferreira Guerra, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O evento ocorreu no dia 1º de novembro de 2018 e teve lugar no Auditório do Palácio do Comércio e Indústria de Imperatriz, no Maranhão.
Antes do debate, o presidente do Conselho Regional de Economia do Maranhão (Corecon-MA), Frednan Santos, apresentou a terceira edição da revista Mundo Econômico, publicada em parceria com o Corecon Acadêmico do Maranhão e com o Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), e que está disponível no site do Corecon. “Nosso objetivo é provocar o debate no meio acadêmico. Importante destacar que o projeto foi iniciado pelos estudantes universitários, que há algum tempo manifestavam o interesse de construir um espaço para divulgação de seus trabalhos. Nós demos o apoio necessário e hoje, com a ajuda do IMESC, conseguimos manter a publicação e esperamos que ela amadureça bastante e tenha muito tempo de vida”, afirmou o presidente do Corecon-MA.
O primeiro a se apresentar no debate foi o professor Oswaldo Guerra. Ele analisou o cenário econômico brasileiro e, entre as questões abordadas, realizou uma comparação fiscal do Brasil com outros países. “Se nós olharmos a situação do Brasil, vemos uma dívida pública bruta crescente e a expectativa para 2019 é de que atinja cerca de 90,5% do PIB. Os emergentes da América Latina estão com média de 59%, 62%, 67%, e os emergentes do mundo como um todo oscilam de 46,9% e 52%”, informou.
Segundo o professor Guerra relatou, o recomendável para o mundo emergente é de 80% do PIB, de acordo com o FMI. “É por isso que muitos candidatos falam em tentar a médio prazo estabilizar a dívida pública bruta brasileira nesse percentual. Acredita-se que um percentual mais elevado complicaria a situação dos emergentes em obter acesso a crédito internacional pelo risco de calote que essa dívida poderia ter. Isso faz com que, para que esses empréstimos venham para países emergentes, se exija uma taxa de juros um pouco maior”, revelou o economista.
Considerando o quadro econômico de baixo crescimento, elevado desemprego e a situação fiscal deteriorada, Oswaldo Guerra analisou quais seriam as propostas que têm sido feitas pelo presidente da República eleito, Jair Bolsonaro. Segundo o professor, a identificação das propostas foi feita a partir do programa entregue ao Tribunal Superior Eleitoral e dos pronunciamentos à imprensa. Ele dividiu as propostas da seguinte forma: 10 milhões de empregos, reforma da previdência, ajuste fiscal, combustíveis, bancos, reforma trabalhista, bolsa família e salário-mínimo e abertura comercial.
“Como seriam gerados esses 10 milhões de empregos prometidos? A redução da burocracia para contratação. Identifica-se que o sistema brasileiro é extremamente burocrático e desmotivaria os empresários a realizarem contratações. Então a redução da burocracia para contratação seria uma medida importante e teria o poder de gerar empregos. Além disso, o candidato eleito defende a desoneração permanente da folha de pagamentos para reduzir o custo de contratação e incentivar o empresário a contratar”, explicou Oswaldo Guerra.
Em sua apresentação, Antonio Corrêa de Lacerda destacou que os economistas já podem fazer apostas sobre o cenário econômico que está por vir, a partir das propostas defendidas por Jair Bolsonaro. “Para mim, é óbvio que essa política macroeconômica que está sendo sinalizada será uma derrocada triunfal. Primeiro porque é mais do mesmo acelerado. Desde 2015, já no segundo mandato de Dilma Rousseff, quando ela trouxe Joaquim Levy para ser ministro da Fazenda. Desde então, o que temos visto: aposta em um pretenso ajuste fiscal como bola mestra da política macroeconômica, na busca da chamada confiança”, argumentou.
Para Antonio, os discursos de Henrique Meirelles, Joaquim Levy e Paulo Guedes são parecidos, na medida em que, segundo o economista, defendem a busca por um superavit fiscal cortando gastos. “Acredito que haverá cortes na área social. Quem vai pagar essa conta é a população mais pobre e também as minorias, já que o programa de Paulo Guedes para a economia é ultraliberal”, destacou o conselheiro do Cofecon. Segundo Lacerda, macroeconomia e economia doméstica não podem ser confundidas, na tentativa de explicar o problema fiscal para a população. “O Estado tem responsabilidades definidas na Constituição em todos os países democratas, não só no Brasil. Além disso, o Estado tem papel macroeconômico de fazer o contraponto à crise econômica”, observou.
Sobre a crise econômica brasileira, Antonio Corrêa de Lacerda afirmou que está longe do fim. “Essa desacelerada mundial, junto com a seca que implicou na queda da safra agrícola brasileira depois de 20 anos de crescimento; operação Lava Jato, que inviabilizou a Petrobras e grandes construtoras; a crise política; e os erros de política macroeconômica conduzidos por Dima Rousseff, especialmente na fase Levy, intensificaram essa crise profunda, a maior crise da nossa história. Tivemos duas quedas seguidas de 3,5% do PIB, a indústria caiu acima do PIB e, o mais importante, a formação bruta de capital fixo apresentou queda nos últimos anos. É uma queda muito forte e estamos longe do seu fim, estamos no meio da crise. A história de que estamos em recuperação é apenas uma figura retórica”, concluiu.
Ao final do evento, Antonio Corrêa de Lacerda falou sobre a sexta edição do livro Economia Brasileira, o que organizou e está disponível para venda on-line. Em seguida, o XXX ENE foi encerrado pelo presidente do Corecon-MA, pelo presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva e pelo representante da Faculdade de Impertariz com a leitura da Carta do evento, “Por um Nordeste Justo e Desenvolvido” – Clique AQUI para acessá-la.