Artigo – Futuro ou Passado?

Nestes dias tumultuados que vivemos, lembrei-me de uma frase que pode ser a síntese do Brasil: o passado não passa e o futuro já passou (Eliane Brum).

Nunca fomos um povo cordial, mas, para efeitos práticos, já fomos pelo menos mais condescendentes. E é bom lembrar que os efeitos das escolhas de hoje se projetarão por um futuro distante. Logo, existe uma responsabilidade inalienável destas gerações; a felicidade de nossos filhos estará em jogo.

Não existe uma fórmula para dizer o que deve ser feito. Se houvesse algum receituário, talvez se pudesse sugerir alguns pontos para reflexão:

1º honestidade não é fator preponderante para uma opção; é um pressuposto. As escolhas não devem ser ditadas pelo discurso fácil do combate à corrupção e na onda das denúncias e investigações;

2º avalie, tanto quanto possível, não apenas o que os candidatos propõem, mas, sobretudo, como podem viabilizar o que prometem;

3º leve em consideração se o que o candidato promete depende exclusivamente de sua iniciativa, de sua competência, ou se estará condicionado a uma decisão de outra esfera ou de outro Poder;

4º investigue a atuação pregressa do candidato, se o que preconiza tem coerência com as suas ações ao longo da trajetória política (profissional e pessoal);

5º concentre-se na contribuição que o candidato tenha dado a projetos de interesse coletivo, comunitário;

6º examine profundamente o comportamento pessoal do candidato, seu equilíbrio emocional, sua capacidade de diálogo e de negociação, e, sobretudo, sua disposição para ouvir, mais do que falar;

7º insira-se em algum grupo onde seja possível participar e fiscalizar a elaboração e a execução dos planos e orçamentos, capazes de conciliar a limitação de recursos e o interesse público.


Roberto Bocaccio Piscitelli é professor da Universidade de Brasília e ex-conselheiro do Cofecon.

  • Artigo publicado no Jornal de Brasília em 04/10/2018.