Artigo – A fadinha da confiança não está conseguindo. E agora?
A fada da confiança, que recompensa governos com grande responsabilidade fiscal, honrando cortes de gastos públicos e até mesmo anúncios dos que têm semblante severo com elevações rápidas e abundantes no dispêndio privado, não tem feito muitas mágicas, aqui ou lá fora.
Também conhecida como contração fiscal expansionista, tem sido objeto de um monte de estudos empíricos, com a sua rejeição ganhando de lavada. O próprio FMI, outrora bicho-papão das economias emergentes com dificuldades em seu setor externo, desacreditou dos poderes dessa fada.
O fato é que os lindos olhos de Henrique Meireles não têm comovido muita gente a se precipitar com investimentos produtivos, ante o risco de ficar pendurado no pincel. É mais seguro olhar para os números e prognósticos de negócios da sua própria empresa e do mercado onde atua do que seguir as recomendações dos que a grande mídia escolhe para chamar de “os economistas”.
A pesquisa Focus, do Banco Central, de expectativas do mercado, que chegou a uma mediana de 2,9% para o crescimento do PIB de 2018, já estava em 1,55%, na de 22 de junho.
A fada da confiança é exigente, dizem “os economistas”. Tem que fazer a reforma da Previdência. Certamente, pois estamos envelhecendo. Precisamos conversar, mas, pra começar, tem de separar a previdência dos funcionários públicos da dos trabalhadores privados. São problemas totalmente diferentes.
Para os funcionários públicos, é aquilo mesmo – elevação da idade mínima e regime de capitalização. Para os trabalhadores do setor privado é mais complicado, por envolver uma redistribuição de renda que pode ser cruel.
A proposta de Meireles fecha tirando da classe C pra não mexer nas de cima. A de Marcelo Neri fecha tirando da C pra poder dar para a D e E. Mais justo tirar da A, mas tornou-se uma abominação falar em qualquer aumento de imposto. Cada um lembra-se de si, achando que já paga muito, mas não seria o caso de todo mundo.
A economia não estar pegando pode até não ser o pior dos mundos. Afinal, crescer pra quem? A teoria macroeconômica importada dos irmãos do Norte não consegue responder. Não tem pobres, nem classe média, nem capital financeiro, nem capital produtivo. Todavia, com a emenda do teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista e outras propostas “reformistas”, será difícil crescer sem concentrar renda e reverter direitos que haviam reduzido parte do secular apartheid social que nos define.
A espera pela fada da confiança continuará ou não, dependendo da coalizão que governará o País nos próximos quatro anos. Nas mãos dos desenvolvimentistas, as chances de voltarmos a crescer, num ritmo mais razoável e sem concentrar renda, são maiores.
Existem divergências entre eles. Uns, como Laura Carvalho, enfatizam mais o desenvolvimento do mercado interno, puxado por investimentos públicos em infraestrutura. Aquela “inflacionista” ainda se preocupa com a abertura de espaço fiscal elevando impostos sobre os mais ricos e cortando privilégios de castas do serviço público, tipo remunerações acima do teto, mordomias e nomeações às custas da viúva. Outros, como Paulo Gala, preferem os ganhos de escala em se produzir para o mundo, gerando ocupações de alta produtividade, que disseminarão altas remunerações na economia em geral.
A boa notícia é que não chegam a ser estratégias excludentes, embora algumas questões precisem ser conciliadas, como o que fazer com a taxa de câmbio.
Artigo publicado originalmente na Carta Capital em 23/07/2018.
Fernando Aquino é economista pela UnB e conselheiro federal do Cofecon.