Artigo – Nacionalismos
Há diversas formas de manifestação do sentimento nacional. Na recente decisão da Copa, tivemos os exemplos de um nacionalismo multirracial francês, cuja seleção nacional tem 60% de jogadores negros e árabes, e do nacionalismo croata, que faz ode ao passado da Ustase, a organização fascista aliada de Hitler, que governou o país em 1941/45 e que massacrou quase 1 milhão de sérvios, bósnios, judeus e ciganos, além dos socialistas e comunistas, é claro.
No Brasil, o vemos sob diversas facetas. Alguns manifestam seu sentimento de brasilidade vestindo a camisa da seleção de futebol na Copa ou em manifestações políticas organizadas pelas organizações de direita. Batem panelas contra Lula com a mesma disposição com que arrumam as malas para passar férias em Miami ou batalham por um green card.
Prefiro me alinhar ao nacionalismo que defende uma nação para todos os brasileiros, uma nação menos desigual, mais solidária e fraterna, e que se insurge contra o processo em curso de desnacionalização da economia nacional. Nestes dois anos de Temer, estamos privatizando “pelas beiradas” os setores de energia elétrica (Eletrobras), óleo e gás (Petrobras), papel e celulose, infraestrutura aeroviária e portuária, entre outros.
Destaque para a venda da Braskem (49% da Petrobras), 5ª maior petroquímica do mundo, para a holandesa LyondellBasell, abdicando o Brasil de presença num setor estratégico, e da Embraer, 3ª maior empresa aeroviária do mundo e líder em inovação do país, para a norte-americana Boeing.
O escandaloso é que a Boeing fica com o controle da área de aeronaves comerciais, da qual a Embraer é líder mundial na produção de aviões de médio porte (até 140 passageiros) e que responde por 90% do lucro da empresa, deixando a área de defesa – que demanda investimentos pesados (o cargueiro militar KC-390 demandou investimentos de US$ 5 bilhões) e que são financiados pelo lucro da aviação comercial – ao “deus dará”. Cadê os nacionalistas e os patriotas amarelos?
Júlio Miragaya – Vice-presidente da Associação dos Economistas da América Latina e Caribe.