Cerimônia de posse do Cofecon destacou desigualdade social no Brasil
A cerimônia de posse da nova presidência do Cofecon e de conselheiros federais para o triênio 2018/2020 ocorreu na última quinta-feira, 25 de janeiro, no Hotel Nacional, em Brasília. Na ocasião, o economista Wellington Leonardo da Silva foi empossado presidente da autarquia e a economista Bianca de Andrade Lopes Rodrigues como vice-presidente, ambos para o mandato de 2018. O evento reuniu economistas e representantes da sociedade civil. Acesse o vídeo completo da cerimônia em https://www.youtube.com/watch?v=oaCIUZ18Nrc
Os economistas empossados como conselheiros efetivos para o mandato de 2018/2020, são: Antonio Corrêa de Lacerda, Antônio de Pádua Ubirajara e Silva, Antonio Melki Júnior, Eduardo Rodrigues da Silva, Fernando de Aquino Fonseca Neto e Maria Auxiliadora Sobral Feitosa. Como conselheiros suplentes Clóvis Benoni Meurer, João Bosco Ferraz de Oliveira, Luiz Antônio Rubin, Paulo Salvatore Ponzini, Róridan Penido Duarte e Sávio de Jesus Tourinho da Cunha.
A mesa diretora do evento foi formada pelo presidente do Cofecon nos mandatos de 2016 e 2017, Júlio Miragaya; a vice-presidente do Cofecon eleita para o mandato 2018, Bianca Lopes de Andrade Rodrigues; o presidente do Cofecon eleito para o mandato 2018, Wellington Leonardo da Silva; o presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann; a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco; e o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), economista Guilherme Delgado.
O novo presidente do Cofecon, Wellington Leonardo da Silva, chamou a atenção para a questão da desigualdade social no Brasil e no mundo, citando o relatório “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, da organização não governamental (ONG) britânica Oxfam, que destaca que cinco bilionários detêm a riqueza equivalente à renda total da metade da população mais pobre do País. A lista é liderada por Jorge Paulo Lemann, 77 anos, sócio do fundo 3G Capital, seguido por Joseph Safra, de 78 anos, do Banco Safra. O terceiro e quarto lugares também são da 3G Capital: Marcel Herrmann Telles, 67 anos, e Carlos Alberto Sicupira, 69 anos, em quinto lugar está Eduardo Saverin, do Facebook. Quando a lista foi foi elaborada, ainda não se tinha a informação de que o dono da AMBEV já despontava em posição bem confortável neste clube.
“Para dar conta destas atribuições do Cofecon previstas na Lei 1.411/51, é necessário perceber com clareza o cenário econômico existente hoje no mundo e no Brasil, as interações entre países e blocos, a mudança da lógica de dominação das grandes potências e de suas populações e, sobretudo as estratégias de financeirização da economia e de captura do Estado pelo sistema financeiro”, afirmou Wellington Leonardo.
O modus operandi das instituições brasileiras também foi questionado pelo presidente do Cofecon. Wellington Leonardo apontou que alguns dos princípios que orientam a atuação do poder público, como a isenção, a lisura, a decência e a legalidade estão sendo relegados enquanto os interesses políticos e pessoais daqueles que se julgam donos do poder têm norteado as instituições, colocando em xeque o próprio Estado democrático de direito. “Até mesmo a velocidade dos processos judiciais depende de quem for o “cliente”. Quando os objetos forem helicocas ou aviões transportando o mesmo tipo de carga, será preciso muita calma. Entretanto, para alguns outros casos a celeridade pode e deve ser alucinante”, destacou o presidente do Cofecon.
Para Wellington Leonardo, é importante incorporar a prática de ouvir mais a sociedade, além dos economistas renomados que participam da plenária do Cofecon e dos debates promovidos. “Precisamos estar atentos às demandas apresentadas pelos movimentos sociais, de forma a calcar na realidade a aplicação das técnicas que dominamos”, disse. Ao finalizar seu discurso, citou sua concordância com o filósofo chileno e professor da Universidade de São Paulo Vladimir Safatle, de que “o futuro mais alvissareiro será precedido pela politização e resolução dos conflitos distributivos”.
Em sua fala, a vice-presidente do Cofecon, Bianca Lopes de Andrade Rodrigues, chamou a atenção para a participação das mulheres economistas no Sistema Cofecon/Corecons. “Pela primeira vez em 66 anos este cargo que hoje assumo é ocupado por uma mulher. Desde o início do Cofecon, apenas 26 mulheres foram conselheiras federais. Em 2016, havia apenas três mulheres como conselheiras efetivas, que representavam apenas 16% do total de conselheiros. É evidente que precisamos e queremos aumentar a participação feminina no Sistema”, destacou. A economista citou a criação do Grupo de Trabalho Mulher Economista, em 2016, e todas as atividades realizadas desde então, principalmente as mesas de discussões ocorridas no XXV Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (SINCE) e no XXII Congresso Brasileiro de Economia (CBE). “Que neste ano o grupo se fortaleça, cresça e permaneça para que muitas outras mulheres tenham a oportunidade de contribuir para a profissão e para a sociedade por meio dele”, disse.
Já o economista Márcio Pochmann destacou a responsabilidade do Conselho Federal de Economia e dos economistas na transformação da sociedade. “A nossa profissão tem mais de seis décadas de regulamentação. Se olharmos para o passado, perceberemos a presença de representantes da categoria em debates sobre os rumos do País através de polêmicas, discussões de ideias, buscando oferecer as diferenças e não necessariamente construir um consenso”, observou. Pochmann afirmou que, assim como na década de 60, hoje vivemos um momento de transição estrutural, em que a sociedade deixa de ser estrutural para avançar cada vez mais na área de serviços. “Cabe a nós uma contribuição que não podemos deixar de cumpri-la, pois assim os que vierem posteriormente poderão rever os que estiveram presentes e não abriram mão do exercício da defesa da democracia e do compromisso com um Brasil que precisa se desenvolver”, completou.
A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco propôs que os economistas não se limitassem aos números ao analisar cenários ou pensar em políticas públicas, mas que se dediquem a pensar no impacto de decisões econômicas na vida das pessoas, suas urgências e necessidades, focando nos segmentos mais vulneráveis. “Precisamos pensar no processo político e econômico que viveremos em 2018, mas que seja uma visão além do mercado. Gostaria que esse debate pudesse fazer parte das considerações conselheiros do Cofecon, para que homens e mulheres possam ver a circulação em seu dia a dia, não só em relação à moeda, mas também à vida, com novas oportunidades, acesso a mobilidade urbana, e a possibilidade de redução de desigualdades dos mais variados tipos. A desigualdade tem vida, tem cor, origem, raça e precisa ter perspectiva de futuro”, observou.
Representante da CNBB, o economista Guilherme Delgado argumentou que cada vez mais torna-se evidente para as igrejas que o tema da economia é eclesial. “O Papa Francisco se refere claramente a uma questão que está presente no mundo todo, que é a idolatria ao dinheiro, como condição de obstáculo a realização de necessidades humanas básicas que passam e dependem do mundo da economia”, afirmou. Para Delgado, as finanças públicas no Brasil são tratadas como algo ilimitado, inimputável e objeto de acordos de leniência secretos.
O ex-presidente Júlio Miragaya fez um balanço de sua gestão, destacando os principais avanços e os desafios para as próximas gestões. Observou que a Lei nº1.411/51, que instituiu o Cofecon, definiu entre as atribuições da autarquia “contribuir para a formação de sadia mentalidade econômica através da disseminação da técnica econômica nos diversos setores da economia nacional” e que um dos maiores avanços de sua gestão foi ter conseguido tornar o Cofecon uma fonte de credibilidade na mídia nacional. “É um eterno desafio nosso. Durante o período em que estive à frente da autarquia, foram mais de duas mil inserções na mídia, nos mais diversos veículos de comunicação, e isso foi possível porque nos manifestamos sobre os diversos aspectos da economia nacional e nos posicionamos”, destacou o ex-presidente do Cofecon. Miragaya também destacou a Campanha pela Redução da Desigualdade Social no Brasil, uma iniciativa do Cofecon e que conta com o apoio de quase 30 entidades nacionais.
Ao final de seu discurso, Miragaya comentou o julgamento do ex-presidente Lula, na última quarta-feira (24/01), pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). “As manchetes dos jornais publicadas sobre o episódio deixaram às claras que o mercado financeiro não aceita Lula na disputa presidencial porque representaria uma ameaça a agenda de reformas do atual governo. No entanto, o Brasil não é mercado. Não podem os investidores substituírem a vontade dos brasileiros”, disse. Ao concluir, disse esperar que 2018 seja um ano melhor para a economia, mas que essa melhora signifique condições de vida mais dignas para a população brasileira.