Artigo – As incertezas devem pautar o cenário econômico em 2018
O ano novo está começando e as atenções dos agentes econômicos se voltam para tentar buscar pistas do cenário econômico de 2018. Se as previsões do Banco Central do Brasil se confirmarem, a economia mundial deverá crescer 3,7%, sendo que a China terá uma perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 6,2% e os Estados Unidos têm um crescimento projetado de 2,14%.
Esses resultados poderão impactar positivamente na economia nacional, que necessita de uma estabilização do setor externo combinada com uma reação das commodities para manter um saldo na balança comercial entre US$ 30 bilhões e US$ 35 bilhões ao ano. Embora o cenário internacional possa contribuir para o crescimento econômico do País, isoladamente, ele não será suficiente para retirar o Brasil da grave crise econômica que se instalou nos últimos anos.
Sob o ponto de vista interno, segundo projeções do Boletim Focus do Banco Central do Brasil, o PIB brasileiro deve crescer em torno de 2,68%, a inflação (IPCA) deve ficar abaixo da meta e registrar 3,96% ao ano, e a taxa de juros SELIC continuará em trajetória descendente e atingirá algo em torno de 6,75% no fim do ano.
Embora os indicadores macroeconômicos estejam demonstrando uma melhora parcimoniosa da economia nacional, a dinâmica econômica será afetada diretamente pelo calendário eleitoral e esse será um dos pontos mais desafiadores que teremos que passar ao longo do ano. Dependendo das tendências eleitorais que forem se desenhando durante o período, as expectativas dos agentes econômicos podem ser afetadas negativamente e mergulhar o mercado num cenário deincerteza que pode reduzir a produção afetando o emprego e a renda.
Os dados divulgados recentemente pelo Ministério do Trabalho de que o País fechou 12.292 vagas com carteira assinada, de acordo com as informações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), devem acender o sinal de alerta no governo. Isso porque esse encolhimento dos postos de trabalho foi após o primeiro mês de vigência da reforma trabalhista aprovada pelo congresso e, para 2018, a previsão é de uma taxa de desemprego ainda com dois dígitos, em torno de 11,8%.
Importante destacar que, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio, em novembro o número de endividados aumentou e alcançou 62,2%, sendo que desses 25,8% declararam que estão com as contas em atraso. Caso esse quadro persista e, aliado ao elevado nível de desemprego, pode impactar no nível de consumo das famílias provocando sua redução e se tornando em mais um obstáculo ao crescimento econômico via aumento da demanda.
Outro ponto de preocupação para este ano trata-se do ajuste fiscal do governo para fechar as contas de 2018. Conforme dados do Jornal Valor Econômico, do conjunto de propostas apresentadas pela equipe econômica em agosto, só uma está em vigor atualmente. As outras, que representariam receita de R$ 23,2 bilhões e corte de gastos de R$ 725 milhões, estão com calendário comprometido. Portanto, o ano de 2018 será de grandes incertezas e uma dose de cautela nas ações dos agentes econômicos será crucial para que não tenhamos muitas surpresas.
Ricardo Paixão é presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES)