Artigo – O mantra liberal
Os analistas do mercado financeiro não se cansam de repetir que o Brasil só terá futuro se o povo escolher em outubro próximo um candidato que dê continuidade a agenda de reformas liberais do governo Temer. Fora isso, seria o caos.
Além da arrogância e da soberba, típicas da intelectualidade burguesa (que já escolheu o melhor presidente para o país, resta ao povo confirmar a indicação), observa-se um profundo desconhecimento da alma e dos valores do povo brasileiro. Uma das certezas dos liberais é de que o povo brasileiro não quer mais a presença do Estado na economia, e deseja ardentemente a privatização das empresas estatais, pois só a gestão privada pode fazê-las funcionar bem.
Ocorre que recente pesquisa realizada pelo Datafolha apurou que 70% dos brasileiros são contrários à privatização das estatais e apenas 20% são favoráveis (10% não responderam). O posicionamento contrário às privatizações é majoritário em praticamente todos os estratos: nas cinco macrorregiões; entre os homens e as mulheres; entre os de escolaridade de nível fundamental, médio e superior e entre os eleitores do PT, PSDB e PMDB. Ah, sim, apenas os situados no estrato mais elevado de renda familiar e os que acham o governo Temer ótimo ou bom são majoritariamente favoráveis a privatização.
A pesquisa explicita que a manipulação do povo tem limites. São inúmeros os exemplos de que a gestão privada não é garantia de bom funcionamento de uma empresa, casos da Oi, Grupo EBX e Aracruz; e muito menos de imunização contra a corrupção, casos da JBS, das empreiteiras e agora da ex-estatal Embraer, que reconheceu ter dado propina de US$ 1,5 milhão para um graduado funcionário do governo saudita. Ademais, várias empresas públicas que foram privatizadas quebraram, casos da Vasp, Cosipa e Bamerindus.
É normal que os analistas de mercado repitam este mantra, pois eles representam vultosos interesses econômicos. O duro é ver os “macaquinhos de imitação” repercutindo tais teses.
Júlio Miragaya – Presidente do Conselho Federal de Economia