Artigo – Por que o PIB brasileiro cresce a taxa tão baixa?
(1) A intermediação de capital, a dupla demanda e as escolhas temporais.
Por volta de 2005, li um artigo do finado Antônio Ermírio de Moraes, na Folha de São Paulo, alertando sobre o baixo crescimento da economia brasileira. O artigo tomava como base uma taxa de crescimento histórica de 2,7% ao ano. Hoje a indagação não é só brasileira, mas chama a atenção de organismos internacionais como a CEPAL e o FMI. Para 2017 e 2018, o FMI prevê taxas de crescimento de 0,7% e 1,5%. Apesar da melhora na previsão de 0,3% para 0,7% em 2017, “o crescimento brasileiro continua menor do que a média global e dos países emergentes”. O Brasil não conseguirá crescer mais do que 2% até 2022, segundo o Correio Braziliense, em 11.10.2017.
Um trabalho recém-publicado nos EUA pelo economista Danny Yagan, da Universidade da Califórnia em Berkeley, constatou quatro fatos interessantes: 1) A economia americana saiu da grande recessão (2008-2009); 2) A taxa de desemprego saiu de 10% em 2009 e está abaixo de 5%, e os salários começam a subir; 3) Em agosto/2017, 78,4% dos americanos que estão no auge do seu período de trabalho (normalmente definido entre 25 a 54 anos) estavam empregados – o número representa uma queda de 1,3% em relação ao início da recessão. Essa diferença representa o desaparecimento de 1,5 milhão de trabalhadores da economia americana; 4) O crescimento médio da economia dos EUA desde o fim da recessão tem sido de 2,2%, metade do obtido no período seguinte à crise do começo dos anos 1980 (Folha de São Paulo, 9.10.2017).
Veja a correlação do crescimento do PIB com o crescimento do emprego e do salário e do crescimento cadenciado do PIB americano para 2,2% ao ano em média após a recessão de 2008/ 2009. Isso é uma pista para se esclarecer o crescimento baixo do PIB brasileiro? É certo que há regras novas operando na economia brasileira para tentar se explicar seu baixo crescimento de hoje em relação aos anos 1980 e se supõe que alguns delas sejam de caráter nacional e local e outras de aplicação internacional.
A intermediação de capital talvez seja uma regra nova de cunho internacional. Convém não confundir intermediação de capital com a demanda intermediária de capital. Esta continua existindo, mas sob o efeito e influência da intermediação do capital que funciona aos mesmos moldes da intermediação financeira.
Existe uma demanda potencial por demanda de capital (DpM) e passou a existir com muita força em determinado período da história recente a demanda para a Intermediação de Capital – para máquinas e equipamentos (DIM), que se confronta com uma certa oferta – a oferta de máquinas e equipamentos (OM). Então DpM menos DIM é igual a OM. Daí resulta um efeito novo para o crescimento do PIB: a demanda potencial (DpM) cresce mas a oferta OM fica em estado estacionário. Se a oferta de bens de capital não cresce, o crescimento do PIB torna-se influenciado apenas por uma parte da demanda efetiva Keynesina, o consumo das famílias.
De fato a participação da Formação Bruta de Capital Fixo no PIB brasileiro de 2016 (16,4%) é inferior que o registrado em 2007 (17,8%) (Correio Braziliense, 15.10.2017). Se prosseguirmos nas evidências empíricas veremos que esse indicador será mais rico quanto mais nos aproximarmos dos anos 1980. Teoricamente podemos recorrer a um exemplo. Suponha que a DpM seja 500.000 e que a DIM seja de 50.000. Logo, a oferta OM será de 450.000 máquinas e equipamentos. Suponha que a DpM tenha crescido 3% no ano seguinte, o que seria um dado robusto para explicar o crescimento do PIB. Mas oferta OM, não cresceu nada. Isto é, a participação da Formação Bruta de Capital Fixo no PIB não aumentou. Ao contrário, caiu. Para que esse efeito negativo no PIB se confirme basta que a Intermediação de Capital cresça 30%, isto é, passe de 50.000 para 65.000. A oferta de máquinas e equipamentos continuou a mesma do período anterior, 450.000.
Por outro lado, medir, o crescimento da demanda de máquinas e equipamentos pela Intermediação de Capital não é tão fácil assim. Há que se levar em conta o número de vezes (N1) que uma certa Máquina ou Equipamento (M1) é demandada efetivamente em um determinado período de tempo: N1XM1+N2.M2+N3.M3… De modo que se supõe que três forças mantêm de pé a oferta de bens de capital no Brasil; 1) A demanda intermediária de bens de capital remanescente; 2) A demanda externa de bens de capital; 3) A demanda agrícola por máquinas de equipamentos. As demandas 1 e 2 não se tem dados disponíveis no momento. A demanda 3, a agrícola, tem um fator determinante para que isso ocorra.
Um diferencial proporcionado pelas escolhas temporais que os agricultores fazem que impede a assunção da intermediação do capital no campo. Quando os agricultores vão para a atividade no campo na fase de semeadura e de colheita, o fazem simultaneamente. Todos escolhem fazer as atividades ao mesmo tempo. A isso chama-se de Escolha Temporal Homogênea (ETHo). Se devem as fases das estações do ano. E isso torna improvável o empréstimo, aluguel ou a locação de máquinas, o que obriga os agricultores individualmente a serem proprietários de cada máquina e equipamento empregado na fase de semeadura de da colheita.
Em contrapartida, no centros urbanos é comum a convivência das escolhas temporais homogêneas e heterogêneas. Isto é: as escolhas são efetuadas em tempos aleatórios. O que explica a perfeita coexistência da Intermediação de capital com os centros urbanos principalmente os mais desenvolvidos. Mas há outras regras operando na economia brasileira que explica o baixo crescimento do PIB, que em outra oportunidade voltarei ao assunto.
Carlos Magno – Economista e Escritor.