Artigo – Barbas de molho

Os jornais desta semana noticiaram que o presidente da França, Emmanuel Macron, conta com a aprovação de apenas 36% dos franceses, apenas três meses após sua eleição em maio. Na ocasião, analistas e políticos mundo afora apontaram Macron como o mais novo fenômeno da política mundial e o saudavam como o competente ex-executivo do mercado financeiro que promoveria o casamento do liberalismo econômico com a proteção social.

Comportando-se como “comentaristas de botequim”, desprezaram os reais resultados eleitorais: no 1º turno, as abstenções e votos nulos e brancos somaram 11,53 milhões (24,2% do total), superior aos 8,66 milhões de votos para Macron (18,2%). No 2º turno, Macron teve sua votação ampliada para 20,75 milhões, mas em face do apoio de quase todos os demais partidos contra a candidata fascista Le Pen, e mesmo assim a abstenção e votos nulos e brancos cresceram para 16,19 milhões (34% do total).

Nas eleições legislativas, as abstenções e votos nulos e brancos somaram incríveis 30,77 milhões (65% do total). Macron obteve ampla maioria na Assembleia Nacional devido ao antidemocrático sistema de voto distrital, mas seus partidários tiveram apenas 5,43 milhões de votos (11,4% do eleitorado).

Os jornais também têm relatado a crescente impopularidade do presidente-empresário argentino Maurício Macri, que prometeu debelar a inflação, mas a levou a 40% ao ano, elevando também o contingente na linha de pobreza do país a 13 milhões (30% da população argentina), para não falar das trapalhadas do presidente-empresário Donald Trump.

As “novidades” estão celeremente despencando, e aqueles que no Brasil, como o prefeito paulistano Doria, as celebraram como modelos de empresários ou executivos que fazem sucesso na política, devem estar botando as “barbas de molho”. Para os tolos, que acreditam que governar um país é o mesmo que dirigir uma empresa, fica o alerta, pois 2018 está logo ali.


Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia