Artigo – Donos do mundo
Desde a década de 1980, com a crise e derrocada do bloco socialista e a ampla hegemonia das teses neoliberais, iniciou-se o chamado período da globalização da economia, que prefiro chamar de financeirização. A mais forte característica desse período tem sido o aumento da concentração da renda e da riqueza nos extratos que habitam o topo da pirâmide social dos países de nosso planeta, sejam eles desenvolvidos, emergentes ou subdesenvolvidos.
O relatório Global Wealth Report & Databook 2015, elaborado pelo banco Credit Suisse, revela a evolução da concentração da riqueza entre 2000 e 2015, e destaco aqui a situação em quatro das principais economias do mundo: EUA, China, Rússia e Brasil. Observa-se que o seleto grupo compreende a principal economia capitalista, duas grandes economias que transitaram do sistema socialista para o capitalista e o nosso Brasil.
Nos EUA, a concentração da riqueza entre os 10% mais ricos se manteve estável em 74,6% entre 2000 e 2015, ou seja, os demais 90% detinham apenas 25,4% da riqueza. No Brasil, a concentração da riqueza no Top 10% passou de 69,4% em 2000 para 73,5% em 2015. Mesmo num período tido como de avanço na distribuição da renda, a riqueza se concentrou ainda mais nos segmentos que compõem nossa elite econômica.
Mas o maior avanço da concentração da riqueza se deu exatamente nos dois países que recém adotaram o sistema capitalista. Na Rússia, após a dissolução do regime soviético e a privatização da propriedade estatal em 1991, a concentração da riqueza (que já avançara bastante, chegando em 2000 a 77,1% no Top 10%) atingiu 87,0% em 2015. E na China, ainda dita comunista, passou de 48,6% em 2000 para 67,6% em 2015.
O mais incrível é que a concentração da riqueza no 1% mais rico chegou a patamares estratosféricos: 37,3% nos EUA, 39,4% na China, 48,0% no Brasil e 70,3% na Rússia. E os ricos ainda querem que o povo reaja a tal distribuição da riqueza de forma resignada?
Júlio Miragaya, Presidente do Conselho Federal de Economia